Para aliviar a alma e incrementar palavras...
Bem vindos ao delicioso Pudim de Letras, onde a receita é simples: Bom humor, criatividade, esperança e nem um pouquinho de preconceito.

24 junho, 2009

Medo.

Meu pai trabalha comigo sempre que está com tempo disponível.
Além de ser um funcionário exemplar, ele também observa com meus olhos, o que para mim é garantia de serviço mais bem feito do que o normal.
Aqui a ralação é pesada! Todo mundo chega às sete da manhã e vai até anoitecer. Inclusive eu e meu pai.
No último domingo ele passou mal.
Ele ficou sentando quietinho, às três da tarde. Com a mão apoiada na cabeça, o prato do almoço em frente e uma com uma cara péssima. Tonto, suando frio.
Passou rápido. O mal-estar era fome e com tanta correria, quem é que lembra que precisa se alimentar?
Mas deu um medo, sabe.
Apesar de sua aparência de garotão, meu pai já está com os seus cinqüenta e poucos anos... Contando piada, trabalhando pesado e caminhando muito quilômetros a pé, igual a um menino de vinte. Mas, não vai ser assim para sempre. Ele está envelhecendo e com isso vai vir um monte de dores, cansaço, tonteira, mal-estar.
E eu nunca tinha parado para pensar nisso. Fiquei com medo, muito medo.
Eu não viveria sem o meu pai.
Quem nos conhece sabe que fomos feitos um para o outro e que esse amor bonito reluz nos olhos.
Sabem que quando a gente se abraça não existe sentimento mais puro no mundo todo e que é com esse amor que nós dois passamos a enxergar relação de pai e filho como a mais bonita que existe, quando existe de fato.
Ele é a minha família, para quem eu ligo quando quero contar da viagem, do sabor da sopa que estou comendo, da música que estou ouvindo, das notas da Anna Júlia, dos projetos que estou bolando, quando quero contar segredo, fazer charme, desabafar...
Hoje eu sou dona do meu nariz, enfim. Mas, se bobear ele me pega no colo mesmo assim e me ensina da forma mais honesta do mundo.
Mesmo quando não houver mais, vai haver sempre. Porque lembrança não morre, orgulho não morre e o amor muito menos.
E enquanto o tenho comigo eu vou grudar, amar, beijar, abraçar e fazer todos os carinhos possíveis porque em nenhum outro lugar do mundo existe um pai tão pai quanto o meu paizinho.

E chega de falar do medo de perder, porque senão vai haver dilúvio aqui no escritório.

21 junho, 2009

Quem casa, quer casa

Quando alguém resolve casar, organiza-se uma festa, convida os amigos, escolhem-se o cardápio, as bebidas... Enquanto isso também se escolhe os móveis, os jogos de cama, a cor do sofá, os quadros para decoração... Isso tudo porque algum tempo antes se escolheu o lugar para morar.
Aí vem a festa, os presentes, os amigos, depois a viagem de lua de mel que é aonde o casal vai para se curtir, ficar junto em algum canto do mundo até chegar a hora de dormir pela primeira vez na cama nova, com o jogo de cama com a quantidade de fios escolhida pelos dois.
Passando uns anos pensa-se em alguém para completar a casa. Aí se tenta um filho. De novo um projeto. Agora, escolhem-se os móveis do quarto, a cor das paredes, os kits de enxoval do bebê... e curte-se a barriga, faz fotos em estúdio fotográfico, arruma as gavetas.
Chega o bebê: “cara de um e focinho do outro”. Começa a guerra: choro faminto da madrugada, trocas e mais trocas de fraldas, cólicas, pediatra mensalmente e logo, logo alguém engatinhando na sala de estar e deixando seus queridos objetos de decoração em frangalhos. Mas isso tudo não tem a menor importância. Foi planejado, foi elaborado, foi projetado e você tem par.
Eu já comecei errado. Engravidei aos 16. Passei por toda essa fase de ter bebê sozinha...
Arrumei um emprego aos 17 (o primeiro) e com o dinheiro do meu salário pequeno sustentava a bebê com fraldas e muitas mamadeiras. Sozinha.
Quando eu me apaixonei pelo meu atual companheiro foi muito profundo, muito forte. Eu não namorei, não fiz planos...
Devido a isso eu não escolhi o cardápio da festa, a casa e muito menos o enxoval e provavelmente não chegaremos a decorar o quarto do bebê por escolha dos dois. Eu já tenho a minha.
Eu caí na casa onde moramos hoje, que é dele, de pára-quedas. A estrutura da casa não estava preparada para receber ninguém a mais.
Mas, como tudo na minha vida parece ser de trás para frente, depois de me inserir com toda a felicidade do mundo na casa alheia, resolvemos escolher os móveis, os acessórios da cozinha e... e só! Os lençóis continuam os velhos, as toalhas também e os problemas idem.
Nós dois trabalhamos em casa, ele com web e eu com eventos. E aqui virou o lar, meio família demais, meio trabalho demais, sabe como?
Quando estamos trabalhando juntos rola um arranca rabo, é fato. Porque mesmo que não tenha nada com firma reconhecida, somos praticamente sócios e batemos de frente como todo bom administrador.
Mas, como a casa, o trabalho e a família ficam todos no mesmo ambiente, fica difícil saber separar as coisas.
A conclusão: Quem casa, quer casa. E quer casa transformada num lar, onde a castanha de caju é nossa e ninguém come, onde o telefone não toca no domingo às 8 da manhã com alguém do outro lado querendo informações, onde você pode receber seus amigos sem ter alguém perguntando até que horas vai a festinha, onde nós preparamos um jantar e não vem alguém, que não foi convidado, sentar à mesa, onde conseguirmos dormir até tarde sem barulhos extras, onde possamos pintar a cozinha de verde limão e a escolha é feita somente por nós, onde não haja máquina de lavar e secar comunitária, onde o chuveiro seja só nosso, um lar que estivesse livre de problemas do dia-a-dia, um lar normal que você sai do trabalho e fica morrendo de vontade de voltar logo para casa.
Ah, meu sonho.
Mas, como eu sou levada, sempre trapaceio o destino e mudo a ordem natural e normal dos acontecimentos... Porque que eu quero escolher a casa, lençóis e toalhas novas, fazer a festa, viajar em lua de mel e mais para frente decorar o quarto do bebê e passar pela mesma fase que eu passei sozinha com alguém do lado? Por quê?
Será que é merecido depois de me jogar de cabeça e sem cautela em todas as situações onde a paixão fala mais alto?
A sagitariana aventureira está sentindo o peso nas costas de tomar as decisões certas na hora errada, só porque quer viver demais e tão intensamente que fica impossível esperar.